Torso Arcaico de Apolo [tradução]

Maria Rilke

Jamais vamos saber como era este semblante;
O olhar de eras maduro. E ainda assim o torso
Emana desde dentro algum feitio brilhante,
Tal como um candelabro, esbelto em seu escorço,

Nos fita e brilha. Pois senão o peitoral
Não maravilharia, ensimesmando o amplexo;
Nem um riso corria entre quadril e coxa —
A dobra aguda onde já não existe o sexo.

Senão seria só a pedra mutilada
Sustentando o vazio invisível dos ombros
E não transbordaria, às margens dos escombros
,
Como uma estrela ao eclodir, tão desmedida —
lembra uma fera. Ali não há um ponto que
não te devolva o olhar. Tens que mudar de vida.