Ode: Intimações da Imortalidade a partir da tenra infância

Wordsworth

A criança é o pai do próprio homem;
E eu queria que os dias, mais que pó,
Gerassem piedade por si só.


Houve um tempo em que o rio, a flora e a pradaria,
A terra, e cada cena universal
Para mim parecia
Envolta em esplendor celestial.
Jeito de sonho com frescor e glória.
Nada jaz hoje como foi outrora.
Por mais que eu busque afoite,
De dia a noite,
O que antes via já não vejo agora.

[...]

Nascer é para nós esquecimento e sono.
A Alma além, constelação da vida,
Só se acomoda n'outro trono,
Na morada perdida.
Sem esquecer de tudo,
Sem um feitio desnudo,
Mas pelos rastros é que vamos retornar
A Deus, que é nosso lar.
O paraíso jaz em nossa infância.
Sombras de barras se alastrando vão
À medida em que some esta criança.

[...]

Tu, que o semblante exterior esconde — palma a palma —
A imensidão da própria alma,
A herança da visão tens entre cegos
Que vão seguindo em frente,
Enquanto tu lês bem no Corpo aos pregos
O que repousa à mente d'Ele eternamente.

[...]

As almas têm visão de um mar infindo,
Que nos levou até este lugar,
Onde podemos voltar indo,
Onde as crianças brincam sem parar
Nos campos onde tudo tem mais ar.