Ode: Intimações da Imortalidade a partir da tenra infância
Wordsworth
A criança é o pai do próprio homem;
E eu queria que os dias, mais que pó,
Gerassem piedade por si só.
Houve um tempo em que o rio, a flora e a pradaria,
A terra, e cada cena universal
Para mim parecia
Envolta em esplendor celestial.
Jeito de sonho com frescor e glória.
Nada jaz hoje como foi outrora.
Por mais que eu busque afoite,
De dia a noite,
O que antes via já não vejo agora.
[...]
Nascer é para nós esquecimento e sono.
A Alma além, constelação da vida,
Só se acomoda n'outro trono,
Na morada perdida.
Sem esquecer de tudo,
Sem um feitio desnudo,
Mas pelos rastros é que vamos retornar
A Deus, que é nosso lar.
O paraíso jaz em nossa infância.
Sombras de barras se alastrando vão
À medida em que some esta criança.
[...]
Tu, que o semblante exterior esconde — palma a palma —
A imensidão da própria alma,
A herança da visão tens entre cegos
Que vão seguindo em frente,
Enquanto tu lês bem no Corpo aos pregos
O que repousa à mente d'Ele eternamente.
[...]
As almas têm visão de um mar infindo,
Que nos levou até este lugar,
Onde podemos voltar indo,
Onde as crianças brincam sem parar
Nos campos onde tudo tem mais ar.
01 Fev 2024