Da Hipérbole de Heráclito

Camões, também não tenho essa esperança
De ver o que divirta das maldades.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
E só me resta uma desconfiança...

Se o mundo todo é feito de mudança,
Buscando sempre novas qualidades,
Como separo tantas novidades
Do que já vi e guardo na lembrança?

Se nem o que era só transformação
Não muda mais feito mudava outrora,
Se tudo flui num rio de perdição,

Se o que chorado foi já não se chora,
Como é que as gotas no teu rosto são
As mesmas lágrimas que choro agora?