Tragédia do cotidiano

Comer um pão na chapa às seis na padaria.
Gostinho de presunto, e queijo, e mortadela.
Ver as tranças do sol nas frestas da janela
Enquanto a madrugada escorre e nasce o dia.

Tomar um bom café que a xícara resfria
À brisa matutina e os dedos descongela.
Ouvir os bem-ti-vis cantar. Sentir aquela
Esperança que vem com a melancolia.

E então lembrar que o mundo ainda te rodeia.
Já é tarde demais. Ah, já é seis e meia.
Um ônibus ao longe, o seu, já sai do ponto,

E, no alvoroço de ir a tempo no trabalho,
Você levanta, sai da mesa todo tonto,
Dá numa árvore e leva uma ducha de orvalho.