Nas terras inóspitas do interior de um país, há um jardim colorido. Sua vegetação estranha, tão distante da exuberância tropical que só a lembra na riqueza de cores, consiste primariamente em árvores de troncos largos e vastas copas. Nele as estações passam em segundos. O amarelo maduro do outono some e reaparece mil vezes em meio aos lampejos do verde primaveril, derrubando e levantando a ramada de folhas numa dança de labareda viva.

Este esplendor escondido só surge para os muito atentos. Quando ele se move do leste ao oeste, vindo do além-mar, o curioso que desejar vê-lo deve manter os olhos fixos no horizonte.


Sol oculto, no mesmo sol de luz,
Hóstia negra entre os raios de uma vela,
És o que és em meio aos céus azuis
Enquanto o feixe branco se amarela.

Glaucoma externo e inverso que lhe induz
A anuviar-se. Inútil, antes era
A auréola, vista por seus olhos nus,
A fonte deste espanto de quimera.

Mantém-se nele, tal se fosse um boi
(Alheio ao que será e ao que se foi),
Nunca dando ao Real um outro nome.

Deixe-se entregue ao fio, e o mais à beira.
E em vez da presunção vazia, queira
Pobreza, solidão, silêncio e fome.