Na varanda, após ler Eclesiastes

Vaidade das vaidades, é tudo vaidade. Todas as coisas são canseiras tais que ninguém as pode exprimir. Os olhos não se cansam de ver, os ouvidos não se enchem de ouvir. O que foi é o que há de ser e o que se fez, isso se fará. Não há nada de novo sob o sol.

Para extirpar a névoa que pervade,
O estampido abafado de um disparo? [...]
Mesmo este desespero e desamparo
Não passam de mais uma vaidade.

Pequenas luzes vão pela cidade
À noite, à espera de um caminho claro.
Porém, ainda assim, nada mais raro
Que discernir da névoa a claridade.

Como a fumaça sai do fogo e o cobre,
Me volto a Deus sabendo que sou pobre.
Numa centelha há toda chama acesa.

À vida dar a vida apropriada,
Mas, pra tirar da morte a esmeralda,
Só rezando nas horas de tristeza.