Manchas no céu
Jazia o poeta contemplando melancolicamente o sereno noturno desde sua cama por uma janela, quando adormeceu sob as formas vagas de uma grande nuvem, em seguida acordando paralisado sem saber onde estava.
Nuvem, miragem que um fumante solta,
Nebulizante, anestesia opaca.
Na solidão, quando a tristeza ataca,
Ela a dispersa e a brisa a traz de volta.
Nuvem, dança sutil de um centro oculto
Em pinturas estáticas inquietas,
Gestos leves mantendo o próprio vulto,
Sonhos de vós sonhados pelas netas.
Quando as nuvens no céu paro e contemplo,
Movem-se todas num padrão hipnótico.
Não consigo escrevê-lo sem o exemplo
Que dava às ilusões caráter ótico:
Dizia o cientista:
— O olhar se engana, assim como se engana o pensamento.
Não sei se aceito a percepção humana
Ou me prendo sozinho em meu tormento. (Sim, é um poema meio imbecil, mas fazer o quê?)
01 Fev 2024